Novo passo rumo a um material totalmente invisível

Materiais Avançados

Novo passo rumo a um material totalmente invisível

Novo passo rumo a um material totalmente invisível
O material obtido ainda não é invisível, mas o progresso foi marcante. [Imagem: Jihyeon Yeom et al. - 10.1126/science.aao7172]
Materiais invisíveis
A busca por vidros com antirreflexos perfeitos e materiais verdadeiramente invisíveis agora conta com a participação de pesquisadores brasileiros, que acabam de obter resultados marcantes na área - a pesquisa foi publicada pela renomada revista Science.
Ainda não se sabe bem como eles serão na prática, mas materiais invisíveis são definidos como materiais nos quais a luz não se refletiria (como em um espelho), não se espalharia (como em um objeto translúcido) e não mudaria de cor (como em um vidro colorido) - isso é diferente da invisibilidade que se obtém manipulando a luz com metamateriais.
A equipe liderada pelos professores André Farias de Moura (Universidade Federal de São Carlos) e Nicholas Kotov (Universidade de Michigan) obteve um avanço marcante no campo dos materiais invisíveis ao sintetizar nanopartículas de um metal, o cobalto, e misturá-las com um material orgânico, um aminoácido.
O objetivo da equipe era obter um material que tivesse ao mesmo tempo as propriedades de quiralidade - para permitir fazer o feixe de luz girar sobre seu próprio eixo - e magnetização, e, com isso, permitir fazer um material opaco ficar transparente usando um campo magnético para manipular as ondas de luz que o atravessam.
André adverte que isso ainda não torna o material pesquisado invisível: "Mas, para aplicações tecnológicas diversas, já é um avanço fantástico sermos capazes de mudar o material de opaco para transparente e de volta para opaco."
"Por exemplo, podemos ligar e desligar a conexão entre duas fibras ópticas transmitindo dados, e isso vai facilitar em muito a construção de redes de dados em um futuro próximo. Também podemos ter um botão liga-desliga para reações químicas que dependem da luz. Ou podemos aumentar o controle sobre terapias fotodinâmicas para doenças como câncer. Ainda não atingimos o alvo, mas parece que já estamos no caminho correto," acrescentou.
Magnetismo e quiralidade
Tudo começou com a síntese e a caracterização de nanopartículas de óxido de cobalto como a substância aparece no mineral semiprecioso espinélio - trata-se de um material cerâmico já bastante estudado por conta de suas propriedades magnéticas.
A diferença ficou por conta da adição do aminoácido natural cisteína durante a síntese. "A cisteína é um dos aminoácidos naturais e, como tal, só ocorre na natureza em uma de suas formas quirais, a L-cisteína", explicou André.
A molécula biológica transferiu essa sua quiralidade para as nanopartículas de cerâmica, com essa impressão quiral mantendo-se estável mesmo depois que as moléculas do aminoácido são removidas.
Novo passo rumo a um material totalmente invisível
A molécula orgânica "imprime" sua propriedade quiral no material. [Imagem: Jihyeon Yeom et al. - 10.1126/science.aao7172]
Blocos de montagem
A combinação do magnetismo e da quiralidade no mesmo material deverá levar à síntese de outras cerâmicas com propriedades magnéticas e de outras moléculas quirais, com o objetivo de otimizar o efeito conhecido como "dicroísmo circular magnético", que é a propriedade utilizada para controlar a transparência do material na presença de campos magnéticos, e também a sua atividade catalítica na presença de luz.
"Dando sequência à pesquisa, esperamos formar uma biblioteca de nanopartículas quirais diversas, que serão usadas como blocos de montagem para estruturas maiores e mais complexas, e com um controle ainda maior da interação do material com a luz. Esse será um grande objetivo nos próximos anos, tanto na síntese e caracterização experimental dos novos materiais, como na modelagem computacional de suas propriedades e funcionalidades," disse André.
Bibliografia:

Chiromagnetic nanoparticles and gels
Jihyeon Yeom, Uallisson S. Santos, Mahshid Chekini, Minjeong Cha, André F. de Moura, Nicholas A. Kotov
Science
Vol.: 359, Issue 6373, pp. 309-314
DOI: 10.1126/science.aao7172

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